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Ele acorda.

ocupa em diagonal sua cama de casal.

se sente vazio, mas não afogado

se sente calmo, mas não em paz.

Ele pensa.

Onde foi toda alma que se tinha

toda fala, virou mudo

surdo, cego, sem fé.

Mas o mundo não se fecha mais.

Nem é escuro.

Apenas é.

Ele não sabe quem é.

Ou como será,

ou como dirá.

O homem prende a si mesmo.

Se mantém preso

a uma outra realidade

uma outra instancia de seu proprio ser

E agora ele quer viver,

mas não sabe como.

Não sabe se pode soltar-se

depois de tantos anos presos

em sua propria memória.

Não é o passado

ou o depois.

É o agora

que o prende,

que o sufoca.

E o ciclo não demora.

A alma que se solta hoje

amanhã a prender-se volta.

E o homem não sabe

se chora,

se passa mal,

ou se sente raiva.

Sentir-se mal por si mesmo

é libertacão,

é corrente presa nas mãos,

é ficar perdido

entre o que é real

e o que a mente devaneia.

Ele pensa:

“Talvez se eu desatar nó por nó

um dia essa alma caminha por si só.

Vazia, porém livre,

livre pra ser o caminho que quiser”.