Enquanto procurava anotações
em um papel amassado,
em uma alma forjada,
eu relembrava de tudo.
Olhe, tudo foi aqui,
passou e foi embora,
mas realmente existiu,
ainda que por instantes.
O passado é uma faca cega e sem pontas,
só se fere quem procura, quem almeja.
Assim como só queima a pele quem procura o fogo.
Viver é seguir no ritmo, seguir olhando para frente.
O que aconteceu já não importa mais,
o que viveu já não importa mais,
nada importa, nada.
Somente meus pés seguros ao chão
mostram-me o que está por vir.
E ah! Eu estou aqui.
Já não tenho medo, não tenho aquele frio na barriga,
sigo andando e agora sou eu quem escolhe
e serei eu que me decepcionarei, sozinho.
Ou me orgulharei de mim mesmo,
mas não me ligo mais a ninguém,
nenhum elo segura-me em uma corrente,
nenhum veneno de serpente.
Sou apenas eu, a luz e o papel
com o desenho que se forma.